Dicas para gravação caseira de áudio com equipamentos domésticos

Posted on: ter, 07/07/2020 - 12:03 By: gilblack1234

Dicas para gravação caseira de áudio com equipamentos domésticos

Gilberto André Borges

A intenção, aos escrever essas breves dicas para uso de equipamentos caseiros, parte do quadro pandêmico em que nos encontramos, momento em que diversos profissionais da Rede Municipal de Ensino vêem-se embuídos do teletrabalho e precisam criar conteúdos usando materiais e equipamentos que tiverem à mão. Neste sentido, telefones celulares possuem microfones superiores à grande maioria dos computadores. Telefones móveis possuem microfones condensadores otimizados para captura do áudio da voz humana e ofertam a possibilidade de captura de áudio sem a necessidade de instalação de nenhum aplicativo. O melhor áudio que qualquer aplicativo conseguir capturar não oferecerá uma vantagem audível em equipamentos comuns comparando-se ao áudio da câmera em modo de alta definição (HD). Assim, se seu celular não possui memória para a instalação de um aplicativo de gravação de voz, use a câmera do aparelho e depois descarte o vídeo, ficando somente com o áudio na hora da edição. Outra vantagem do celular advém do fato de que é completamente silencioso, ao contrário de computadores que possuem ventoinhas e discos rígidos mecânicos que produzem ruídos ao operar. Então, esse é o material mais indicado.

 

Para quem insiste no uso do computador, melhor opção ao microfone do aparelho são os microfones externos tipo USB, de fácil conexão e instalação. O uso do microfone do próprio computadores não é recomendado porque normalmente captura ruídos do próprio equipamento, como ventoinhas, discos rígidos e outros. O uso de um microfone conectado na placa de áudio do computador pode produzir bons resultados dependendo da qualidade do microfone e da boa conexão com a placa. Em áudio profissional a conexão entre microfone e placa de som é feita usando-se com plugues maiores ou, até mesmo, por conectores balanceados. A entrada e saída de áudio nos equipamentos domésticos ocorre, normalmente, utilizando-se cabos tipo P2, que são pequenos demais para os pesados cabos de microfone. Havendo boa conexão e utilizando-se um bom microfone, pode-se obter um bom resultado com o computador.

 

Gravar áudio é um processo criativo. A construção de um fonograma passa por diferentes etapas e situações diversificadas podem acontecer ao longo do caminho. Um produtor experiente busca equilibrar as limitações físicas provenientes das leis da ondulatória geral e da acústica, com as limitações acústicas de instrumentos, equipamentos e espaços de captura, buscando preservar as características da amostra em questão. Trata-se de engenharia complexa. Muitas vezes a matemática envolvida chega a ser indecifrável aos não iniciados, de maneira que a nossa sensibilidade ao som precisa assumir o processo. Então vou ater-me diretamente nas dicas práticas. Explicações teóricas, sejam do campo da física, da música, da psicoacústica ou de outros campos poderão ser detalhadas em momento mais oportuno. Também é preciso atentar ao fato de que nos limitaremos a dicas de captura de áudio. Edição, mixagem e masterização são processos complexos demais para serem abordados nestas poucas linhas e merecem um tutorial à parte.

 

Hardware: telefone celular com qualquer sistema operacional.

Software de captura: câmera

 

Dicas de captura:

 

- Fale direcionalmente ao microfone. Normalmente, o microfone fica na parte frontal inferior do aparelho. Dirija a voz para aquele ponto. Dê preferência a repousar o aparelho sobre uma mesa ou suporte de modo que o microfone fique fixo sem receber choques ou mudanças de ângulo durante a gravação. Use o telefone como se fosse um daqueles antigos gravadores k7 de mesa.

 

- Use microfonação afastada. Coloque o aparelho na sua frente, com uma distância ideal entre 30 e 60 cm. É uma distância pequena que evitará o que chamamos de pop noise, que é o ruído do ar (vento) dirigido ao microfone. Algumas consoantes geram um pulso de ar que prejudica muito a inteligibilidade do áudio e é trabalhoso resolver este problema na edição. Para gravar instrumentos acústicos também é melhor empregar microfonação afastada. Teste a gravação e reposicione o aparelho se preciso.

 

- Reflexão planejada. O som é uma onda, assim como a luz e, como tal é refletido ou absorvido por diferentes materiais. Materiais duros, em geral, são reflexivos: paredes, vidros, metais, azulejos, entre outros. Tecidos e espumas são absorventes: colchões, tapetes, travesseiros, etc. Uma captura de voz para posterior edição requer que o áudio possua a menor quantidade possível de relexão, pois a ambiência é acrescentada posteriormente. Captura de voz sem edição, por outro lado, é melhor que seja feita em um ambiente mais reflexivo. No caso da EJA Centro I, estamos trabalhando com a primeira alternativa, ou seja, áudio com pouca relexão para tratamento à posteriori.

 

- Silêncio é meta! Silêncio absoluto só é possível ser obtido em condições muito especiais e em laboratórios complexos construídos especificamente para isso. Então, temos que encarar o silêncio do ambiente como meta! Se preciso, desligue aparelhos, feche portas e janelas, espere o carro passar, o avião ou o barulho na vizinhança. Por mais que seja possível tratar uma peça de áudio, tanto quanto menos edição, melhor, em função de várias variáveis. Não se faz edição de áudio sem prejuízo do sinal. Você professor também não irá querer gastar horas na edição de um áudio, que é processo complexo e trabalhoso, sendo que todo este trabalho poderia haver sido evitado com a busca de silêncio no set de gravação.

 

- Todos que possuem automóveis possuem também uma cabine de som em casa. O interior dos automóveis é construído para minimizar os ruídos externos e os ruídos mecânicos do próprio veículo. Materiais absorventes, como tecidos, são abundantes no interior dos veículos e minimizam a vibração dos vidros que, por sinal, são bastante reforçados e vedados, de modo que vibram minimamente. Com o veículo todo fechado, desligado e estacionado em um lugar silencioso você terá uma verdadeira cabine de áudio.

 

- Caso não consiga resolver o ambiente, elimine-o. É exatamente isso. Se você não possui um lugar adequado, com pouca relexão acústica, uma opção a considerar-se é gravar ao ar livre, sem a presença de ambiente nenhum. Mas lembre-se, você precisará de silêncio, então gravar ao ar livre só é viável se, realmente, você está em um local silencioso. Caso seja esta a sua situação, evite ficar contra o vento e use microfonação próxima, falando a poucos centímetros do celular.

 

- Articule bem as palavas. Cuidado com as consoantes como “p” e “b”, pois podem gerar uma coluna pesada de ar, que resulta em um pulso grave. Consoantes como “c” com som de “k” e “k” produzem um som gutural que, em alguns casos, resulta em um clique seco no áudio. Com microfonação afastada, não ha muito problema com as consoantes, mas, utilizando-se de microfonação próxima, sim, o controle das consoantes é fundamental para um bom resultado final.

 

Att.

Gilberto André Borges